domingo, 26 de abril de 2009

Não muito distante...

Belo Horizonte, 08:30 da manha, quarta-feira, no interior de um ônibus... uma senhora idosa começa a passar mal diante do extremo calor do ônibus lotado... pessoas começam a se levantar de seus bancos para ver a senhora que ofegava... ofegava... muita falta de ar...
O ônibus continua seu percurso... pessoas continuam a se aglomerar em volta da senhora que cada vez mais se vê em dificuldades de respirar... um grita lá de trás: “faça isso!!!” Outra grita: “faça aquilo!!!”... pessoas se aglomeram...
O trocador então se levanta e se junta também à senhora para ver o que ela sente... desespera-se... corre ao motorista que também se desespera... o ônibus pára... alguém la trás grita: “ow... eu atrasado!!!” O ônibus se mantém parado e o motorista agora fala ao telefone... resolve por chamar o SAMU...

E a mulher??? Continua a passar mal... sem ar... ofegante... ônibus parado... motorista abre as portas do ônibus... todos descem... as fofocas entre os passageiros se avolumam: “e agora?” “como vou fazer?” “ja estou atrasado!!!”

A mulher ofegante... motorista ainda ao telefone... nada acontece... só fofocas e mais falta de ar da senhora... logo a frente havia um hospital... mas... era particular, a senhora não podia ir para lá...

Avista-se um carro da Bhtrans, alguém tem a idéia de ir até eles... a Bhtrans também liga para o SAMU... nada se resolve... apenas a senhora cada vez mais sem ar... decide-se: “vamos levar a senhora para o Pronto-Socorro” – está um pouco longe, o trânsito bem tumultuado, mas o hospital ao lado é particular...

Bhtrans à frente... ônibus na tentativa de acompanhar... mas quem disse que os outros veículos entendem o que está acontecendo?... passa a Bhtrans, o ônibus fica, pois outro veículo já fechou a passagem rapidamente... também devia estar com pressa, atrasado... não podia dar passagem!!!

Lá vai a senhora ofegante... o fe gan te... oo fee gann tee... ooo feee gannn teee... mais um veículo fecha a passagem... mas o hospital próximo era particular...

Ahhh... já ia me esquecendo... sabe aqueles e aquelas passageiras que fofocavam fora do ônibus??? Pois é... não puderam continuar no ônibus... este tinha que ir direto ao Pronto-Socorro... ficaram por lá a espera para entrarem na porta traseira do próximo ônibus lotado... onde tomara não venha mais um a passar mal... afinal, continuavam a dizer durante o momento de espera: “pra quê uma velha daquela vem tomar ônibus nesta hora de trânsito!!! Vou chegar atrasada!!!”
Eita fraternidade!?!? Parece que foi mesma esquecida juntamente com a igualdade - o hospital do lado era particular... ahhh... a senhora???...

...

Eita coisa louca que é essa que acabaram por chamar de amor... negócio esse que nos foge, que enlouquece, que nos deixa meio assim... você sabe!...
Um dia desses amigo meu (afinal dessas coisas a gente não costuma falar da gente mesmo) andou por ai sentindo uma dor estranha, dor que não passava nem a base de remédio e reza forte... disse que tinha sido chamada de angústia... pelo nome pareceu-me mesmo que não era uma coisa boa... an gússs ti a... soa mal né?
Mas aí me explicou que aquilo (a an gússs ti a) tinha como causa o amor... e foi ai que pensei: como podia tão belo sentimento e que soa tão bem - não é!? - levar àquela dor? e aí foi me contando toda a história... como o olho dele brilhava quando falava dela!!! é... dela mesma, aquela que aqui não direi o nome, mas por quem ele sentiu aquilo que para falarmos temos que encher a boca: a moooorrrrr...
Hoje ele carrega esse trem de angústia no peito e não anda sabendo se aquela ainda namora... eita trem doido esse trem de an gússs ti a também né? dói dói, mas não consegue apagar o fio de esperança que o amor teima em deixar...

domingo, 19 de abril de 2009

Andei hoje a pensar sobre os leitores, leitores de muitos textos na pluralidade da informação... acho que tal pensamento apareceu por acreditar que nossos amores, assim como nossos leitores são em muito nossos desconhecidos... escrevemos para eles, pensamos neles, mas sem termos a certeza se é aquilo que gostariam de ouvir ou se a nós desejariam acompanhar...
Essa questão, que nem sei se alguma importância possui, fez-me lembrar de uma certa crônica de um livro do Graciliano Ramos que compartilho:
"Amável leitor.
Não tenho o prazer de saber quem és. Não conheço teu nome, tua pátria, tua religião, as complicadas disposições de teu espírito. Ignoro se tens a ventura de ser um pacato vendeiro enriquecido à custa de pequeninas e honestas trapaças, ou se és um celerado de figura sombria, calças rotas, botas sem saltos e paletó ignobilmente descolorido com remendos nas costas e sonetos inéditos nas algibeiras. É possível até que sejas uma adorável criatura de tranças louras e dentes de porcelana e que agora, de volta da igreja, onde ouviste uma detestável missa rezada por um velho padre fanhoso, abras este jornal para afugentar um bocado de tédio que encontraste escondido entre as páginas de teu manual encadernado a madrepérola.
Não te conheço. Entretanto, envio-te isto à guisa de carta meio anônima. (...) Há por vezes ocasiões em que um mísero rabiscador tem necessidade de fazer grandes volteios, circunlocuções sem fim, somente para furtar-se àquilo que algum simplório poderia julgar talvez ser o fito único de um indivíduo que escreve - dizer o que pensa.
Eu me encontro em uma dessas situações embaraçosas.
Mas tu te preocupas pouco com meus embaraços e com o que me vai pela cabeça, não é verdade?
(...)
Não é que deixe de haver por aí uma agradabilíssima récua de magníficos assuntos a explorar. Mas que te importam a ti os assuntos que me são agradáveis?
Eu é que tenho necessidade de estudando teus gostos e fazendo completa abstração de minha individualidade, oferecer-te qualquer droga que te não repugne o paladar. Mas - que diabo! - eu não sei a quantidade e a cor da substância que acaso armazenas no crânio
(...)
Que sei eu de ti? Nada."
Caríssimos, amores e leitores, "que diabo!", o que terei eu de escrever nestas "linhas tortas"...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

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Um dia perguntaram para uma tartaruga sobre o que achava da amizade. Ela não sabia muito, pois os animais passavam por ela muito rápido e, assim, não conseguira até aquele momento estabelecer nenhum vínculo mais forte...
Entretanto, a tartaruga já havia conhecido muitos animais na sua curta e lenta caminhada... animais diferentes: alguns brincalhões que, apesar de ter feito travessuras com ela, a fez alegre por alguns momentos; alguns rancorosos que já passavam por ela reclamando sobre a vida, sem ter, às vezes, motivos para reclamar; outros que lhe deixaram marcas e que quando passaram fizeram da presença uma saudade, seja porque os amou, mesmo não sendo correspondida, seja porque confiou a eles muito de seus segredos e fraquezas, seja porque encontrou neles a possibilidade de fazer a caminhada um pouco mais ágil... ahhh!!! e como tentou apertar o passo para acompanhá-los... mas é isso... se foram mesmo assim...
Curiosa com as palavras da tartaruga, mas já passando por ela, aquela que perguntava resolveu diminuir seu passo e observar melhor aqueles que passavam ligeiros... muitos estavam acompanhados, poucos andavam sós, e na busca de saber dos primeiros sobre o que pensavam da amizade, diziam que tinham amigos de longa data, mas que não eram muitos, pois grande parte dos que conheceram passaram rapidamente por eles, tendo alguns deixado saudade. Contudo, percebeu aquela que perguntava, que neste caso os que se foram o fizeram não pela velocidade da caminhada, mas pela velocidade que impuseram à vida...
Percebendo que caminhantes lentos ou ligeiros sentiam saudade daqueles que marcaram suas vidas, mesmo sendo uma borboleta resolveu escolher caminhar junto à tartaruga... não porque esta era melhor que os outros que observou passar, e sim pelo fato de que apostou em viver a caminhada junto àquela que muitos conheceu, mas com nenhum destes teve a oportunidade de viver mais do que alguns segundos, restando-lhe apenas a emoção da saudade...
Deve ser por isso que dizem que borboletas transformam )se(...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

...

ando escrevendo...
não sei para onde
não sei para quem
apenas ando... escrevendo

a vida parece
ou aparece
um punhado de ilusões
às vezes, coisas reais
mais um punhado de ilusões muito passageiras

ando...
não sei para onde
não sei para quem
mantenho sempre a cabeça erguida
e escrevo...

Das considerações iniciais

Não sou um poeta, nem alguém preocupado com a métrica ou com as rimas... estou mais para uma partitura desconexa... partituras... pensei que com elas conquistaria meu último encantamento...
Com relação ao uso dos ... presentes em muito nesta página, foram decorrentes de uma importante consideração de uma amiga sobre o ponto final (.) tenho também pensado nos ( ), afinal ambos en(cerram) o que teima em persistir...